Em casa a gente se acerta

Piscou três vezes seguidas para ter certeza de que era real aquilo que estava vendo. Estacionou o carro na primeira oportunidade, deu uns tapinhas no rosto e uns beliscões no próprio braço mas a dor lhe tirou a esperança daquilo ser um sonho. Não podia acreditar que a sua única filha estivesse ali se agarrando na frente do shopping, e ainda mais com outra menina.

“Filha da mãe, ingrata!”, disse. “Dou dinheiro, dou casa, escola pra uma vagabunda dessa me fazer essas safadezas”, continuou com o tom de voz bem mais alto. “Isso foi falta de taca, eu devo ter sido um pai muito bom, mas ela que me espere em casa”.

Desligou o som do carro, não conseguia pensar em nada a não ser na sua filha de mão dadas e beijando uma outra moça. “E só tem 17 anos, uma rapariga dessa, culpa da mãe que não ensinou como ser mulher, parece um macho usando bermuda, tá vendo?”

A prostituta sentada à sua direita puxou o cinto de segurança, se esticou e olhou a cena que tanto atordoou seu cliente. “Você não vai lá buscar ela?”, perguntou já temendo perder o programa da noite. O homem fechou os olhos, respirou fundo duas vezes e tornou a ligar o som.

“Não, tem muita gente ali. Isso é um assunto de família, em casa a gente se acerta. E domingo ela vai ter uma discussão séria com o pastor da igreja.”

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